terça-feira, 20 de julho de 2010

Consumismo

Você é um consumidor consciente ou um consumista? Antes de começarmos a falar sobre o tema, temos que diferenciar consumo e consumismo. O consumo é necessário para sobrevivermos, pois você não vive sem se alimentar, sem se vestir, sem se deslocar. Consumismo está associado a exagero, a supérfluo, ao perdulário. Podemos ter como exemplo de consumismo o padrão de vida ocidental representado pelo estilo de vida estadunidense (american way of life), ou seja, vamos comprar mesmo sem precisar de nada. Consumismo é o ato de comprar produtos e/ou serviços sem necessidade e consciência. É compulsivo, descontrolado e que se deixa influenciar pelo marketing das empresas que comercializam tais produtos e serviços. É também uma característica do capitalismo e da sociedade moderna rotulada como “a sociedade de consumo”. O conceito de consumismo diferencia-se em grande escala do consumidor, pois este compra produtos e serviços necessários para sua vida enquanto o consumista compra muito além daquilo de que precisa.

O consumismo tem origens emocionais, sociais, financeiras e psicológicas onde juntas levam as pessoas a gastarem o que podem e o que não podem com a necessidade de suprir à indiferença social, a falta de recursos financeiros, a baixa auto-estima, a perturbação emocional e outros.
 
Além de conseqüências ruins ao consumista que são processos de alienação, exploração no trabalho, a multiplicação de supérfluos (que contribuem para o processo de degradação das relações sociais e entre sociedades) e a oneomania (que é um distúrbio caracterizado pela compulsão de gastar dinheiro que é mais comum nas mulheres tomando uma proporção de quatro por um), o meio ambiente também sofre com este “mal do século”, pois o aumento desenfreado do consumo incentiva o desperdício e a grande quantidade de lixo.

Nas últimas décadas o planeta vem sofrendo cada vez mais com as moléstias do consumismo, das compras impensadas e não sustentáveis. Isso vem exaurindo os recursos naturais, em especial as matérias-primas e a energia. Estamos caminhando para um colapso ambiental. É necessário repensar o ato de consumir. O planeta não conseguirá suprir toda a demanda que cada vez é maior por matéria-prima e energia da sociedade de consumo.

Hoje, com a chamada globalização, difundi-se a idéia de que é necessário consumir pra alcançar a felicidade. Parte da sociedade adquire muitos objetos supérfluos enquanto outra parte passa fome ou sofre com doenças do início do século passado como a tuberculose. Há um consumo impensado desenfreado e isso vem atingindo a geração presente e, certamente, atingirá as futuras.

O consumismo não nos dá boas perspectivas sociais e ambientais. Estamos presenciando os altos níveis de obesidade, as dívidas pessoais crescentes, a infelicidade crescente, o menor tempo livre para o lazer, o meio ambiente maltratado e por fim, o aumento da violência para sustentar o consumismo de quem não tem um bom nível de renda ou então de pessoas gananciosas que sempre querem mais. A sociedade contemporânea está doente. Homens e mulheres, descontroladamente, são levados a comprar, sem necessidade. Fazem do consumo uma opção de lazer e uma forma de libertação. Os shopping centers se tornaram os templos dessa sociedade - doente - de consumo . Reivindicam o espaço público, mas não passam de comunidades fechadas e restritas, onde se mantém a dominação do rico sobre o pobre. O shopping center vem criando um novo tipo de sociabilidade, mas uma sociabilidade destrutiva. Tanto para o ambiente, quanto para o cidadão. É a manifestação de uma sociedade doente, cuja cura só se dá sob uma transformação radical.
 
O cinema foi e ainda é o principal veículo para disseminar esse conceito, acompanhado do shopping center, do fast food e do automóvel. Sem se dar conta, as pessoas vão assimilando a "cultura" estadunidense e a necessidade de integrar a chamada sociedade de consumo. O shopping center ganhou espaço nas sociedades capitalistas porque passou a significar uma nova cidade, mais limpa, segura, moderna, organizada e mais seletiva que a cidade real, aquela realidade denominada de "mundo de fora".

Com o desenvolvimento da sociedade de consumo, os sujeitos políticos - aqueles que têm deveres, mas também têm direitos - foram praticamente engolidos pelos sujeitos consumidores - aqueles que vivem para produzir e gastar o salário, consumindo muito mais do que realmente precisariam para sobreviver. No Brasil e nos países onde a desigualdade social é mais visível, a violência urbana aparece como um complexo fenômeno que acentua a degradação do espaço público e empurra as camadas privilegiadas da população para lugares mais "protegidos", como o shopping centers ou para os mais endinheirados. A cidadania e a democracia partem do princípio de que todos têm os mesmos direitos na vida em sociedade. Mas , na prática, os que têm mais dinheiro acabam tendo mais direitos que outros. A cultura do consumo nasce e se estabelece sobre os ideais da liberdade individual de escolha, o que gera uma equação complicada do ponto de vista da política e da cidadania, uma vez que a liberdade de escolha é maior, no capitalismo, para quem tem mais dinheiro.

O consumismo também é um dos responsáveis pelo aumento dos índices de violência. Não há paz e felicidade na sociedade consumista, pois o capitalismo exclui grande parte da sociedade. Para garantir o consumismo esses excluídos partem para a violência. Se analisarmos a violência no Brasil há poucos casos que o individuo rouba, assalta, furta, mata para suprir as suas necessidades básicas, como comer, vestir-se com roupas comuns ou mesmo comprar remédios. Hoje a violência existe para garantir o tênis importado, a roupa de grife, o celular moderno, o aparelho de cd, o carro, a moto, os vícios e claro, as drogas. Em suma, o consumismo, a ganância e a carência pelo supérfluo vêm tirando a paz da sociedade.

O marketing também tem culpa nesse processo, pois cria um apetite de consumo onde não há poder aquisitivo pra tanto e diante disso vem à frustração de não poder consumir e consequentemente surge a violência. No Brasil já há canais e programas de televisão que ficam vendendo porcarias supérfluas e infelizmente há quem assiste, se interessa e adquire essas bugigangas inúteis. Também pudera estamos vivendo em um país que a qualidade da educação está decrescendo cada vez mais. Estamos criando consumistas e não cidadãos, já que hoje quem não tem o poder de compra é um excluído dessa sociedade. É o ato de medir as pessoas pelo que têm e não pelo que são.
 
A sociedade ainda não se deu conta que o consumismo tem diminuído a qualidade de vida das pessoas. Temos que parar de olhar e ter os Estados Unidos da América como um padrão de comparação de forma positiva, pois o que vemos lá é uma sociedade doente, assassina, infeliz, exploradora e individualista, mas a mídia faz de tudo pra mostrar que é o melhor país do mundo.

Nunca se consumiu tanto em alimentação, energia, educação, transportes, comunicações, quanto em diversões, como neste momento. As pessoas têm uma maior longevidade e desfrutam de maior liberdade individual porque melhorou o acesso aos serviços de saúde e à educação em muitos países, aos recursos produtivos, ao crédito e à tecnologia.

As conseqüências dos atuais padrões de consumo são altamente inaceitáveis, sob o ponto de vista humano. As desigualdades gritantes no que se refere às oportunidades de consumo conduziram à exclusão de bilhões de pessoas que não chegam sequer a satisfazer as suas necessidades básicas de consumo. Uma criança que nasça hoje em Nova Iorque, Paris ou Londres vai consumir, gastar e poluir mais durante a sua vida do que 50 crianças num país em desenvolvimento e os que consomem menos são os que suportarão o grosso dos danos ambientais.

Somente 20% da população mundial participam nos 86% dos gastos com o consumo individual. Dos 4,4 bilhões de pessoas que vivem em países em desenvolvimento, cerca de três quintos vivem em comunidades sem saneamento básico e um terço dessas pessoas carece de água potável; um quarto não tem habitação adequada; para um quinto, o acesso a serviços de saúde modernos está fora do seu alcance; um quinto das crianças não chega a concluir os estudos básicos e o número de crianças mal nutridas atinge percentagem igual. Para a maioria da população mundial em situação de grande pobreza, os deslocamentos relativos ás tarefas quotidianas, incluindo a obtenção de combustível e de água, são feitas a pé. É escandaloso que os pobres não possam consumir para satisfazer sequer as suas necessidades mais elementares.

Apesar das elevadas taxas de crescimento verificadas no consumo, os países em desenvolvimento não estão de modo algum perto de alcançar os níveis de consumo dos países mais ricos do mundo. Um quinto da população mundial (o que corresponde às pessoas mais ricas):

• consome 45% da carne e do peixe, enquanto as mais pobres (também um quinto) consomem menos de 5%. A média do consumo de proteínas na França é de 115 gramas por dia. Em Moçambique, é de 32 gramas;

• consome 58% da energia total, enquanto as mais pobres consomem menos de 4%; os países de maior rendimento geram 65 % da eletricidade mundial;

• possui 74% do total de linhas telefônicas, enquanto as mais pobres só têm 1,5%. Na Suécia, na Suíça e nos Estados Unidos, existem mais de 600 linhas telefônicas por cada mil pessoas. No Afeganistão, no Camboja e no Chade, só existe um telefone por cada mil habitantes;

• consome 84% do total de papel, enquanto as mais pobres consomem 1,1%. A média dos países industrializados consome 78,2 toneladas de papel por cada mil pessoas, enquanto a média registrada nos países mais pobres se situa nas 0,4 toneladas por cada mil habitantes;

• possui 87% dos veículos existentes em todo o mundo, enquanto os mais pobres têm menos de 1%. Os países industrializados registram uma média de 405 automóveis por cada mil habitantes. Nos países da África Subsaariana, a média corresponde a 11 veículos por cada mil e, na Ásia Meridional, o valor é de 5 veículos por cada mil habitantes.

A distribuição desigual da renda traduz-se em exclusão social quando o sistema de valores de uma sociedade confere demasiada importância ao que uma pessoa possui, desvalorizando o que uma pessoa pode fazer. Os gastos domésticos no consumo de supérfluos podem não deixar lugar ao consumo de bens essenciais como a alimentação, a educação, a saúde, os cuidados prestados às crianças eum plano de poupança que assegure o futuro.

O crescimento desenfreado do consumo está exercendo uma pressão sem precedentes sobre o ambiente, ameaçando duplamente os que menos consomem. Também nos países em desenvolvimento se verifica a pressão que o aumento do consumo exerce sobre o meio ambiente, mas esses valores estão longe dos níveis registrados nos países industrializados como dito anteriormente.

Os pobres são os que se beneficiam menos e os que mais sofrem as conseqüências dolorosas de hábitos de consumo insustentáveis. O peixe é a principal fonte de proteínas para quase um bilhão de habitantes de países em desenvolvimento, mas as práticas esbanjadoras dos países industrializados esgotaram muitas reservas de peixe e fizeram com que os preços atingissem níveis que os colocam fora do alcance dos pobres. A escassez de água potável obriga muitos milhões de pobres a dependerem de fontes impróprias, que constituem a principal causa de cerca de um bilhão de casos de diarréia por ano bem como o principal motivo da morte de lactantes e de crianças muito pequenas. O elevado custo e a escassez de combustíveis modernos nas comunidades pobres obriga muitos milhões de pessoas, principalmente mulheres, a cozinhar os seus alimentos em fogo alimentado por lenha e esterco animal que conduzem à formação de fumaça. Quase dois terços dos 2.7 milhões de mortes por ano, à escala mundial, estão relacionadas à contaminação do ar, provocada pela fumaça proveniente dos lares pobres.

Os consumidores, a sociedade civil e os governos devem formar alianças em prol de novos padrões de consumo. O mundo necessita de padrões de consumo que partilhem recursos e que não dividam as sociedades, que reforcem a capacidade das pessoas e que não as diminuam, que sejam socialmente responsáveis e que não destruam o bem-estar dos outros, que sejam sustentáveis e que não degradem a base de recursos naturais e o meio ambiente para as gerações atuais e futuras.

O consumo é a vitalidade de grande parte do progresso humano e o maior problema reside nos seus padrões e efeitos.

Algumas metas importantes devem ser alcançadas:

• Aumentar o nível de consumo (não o consumismo) de mais de um bilhão de pessoas que têm permanecido excluídas da explosão do consumo;

• Atingir padrões de consumo mais sustentáveis que reduzam os danos ambientais, que melhorem a eficiência do uso de recursos renováveis, incluindo as fontes de água doce, o solo, as reservas de peixe e as florestas;

• Proteger e promover o direito dos consumidores à informação, à segurança face aos produtos de consumo e o acesso aos bens de que necessitam;

• Desencorajar os padrões de consumo que tenham conseqüências negativas sobre a sociedade e que reforcem a desigualdade e a pobreza;

• Atingir uma maior equidade no nível mundial, com o objetivo de atenuar e prevenir os danos causados ao meio ambiente e de reduzir a pobreza.

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