terça-feira, 20 de julho de 2010

O caminho das pedras

O tempo urge e a pobreza é uma calamidade do planeta e ninguém decide. A fome passa ao nosso lado com olhos arregalados estendendo a mão. Nossa consciência é sempre tranquila, pois a fome é dos outros e não é a nossa.

Eliminar a pobreza e a fome e proteger o meio ambiente são coisas inseparáveis. É imprescindível melhorar a distribuição de renda no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento e aplicar parte dessa riqueza acumulada em programas que busquem ajudar os países a integrar o gerenciamento ambiental à redução da pobreza e às políticas de crescimento econômico.

Tais programas devem ajudar os países a aproveitarem o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto), que permite que países desenvolvidos que não cumprirem suas metas de redução de poluentes invistam em projetos ecológicos de países em desenvolvimento dentre outras ações voltadas para a melhoria da educação, capacitação profissional, desenvolvimento de tecnologias limpas, saneamento básico e desenvolvimento da agricultura.

No Brasil, temos recursos e tecnologia para vencer a fome. Falta-nos o espírito solidário para renunciar a privilégios e libertar-nos do vírus do egoísmo. Falta-nos, ainda, decisão política. Temos capacidade de produzir alimento bastante para o consumo interno e para a exportação. A combinação das redes pública e particular de armazéns é capaz de atingir toda a população, em qualquer parte do Brasil.

Apesar disso, existe gente passando fome porque a renda familiar não permite comprar a comida que o mercado oferece. As raízes da fome estão, especialmente, na distribuição iníqua da renda e das riquezas, que se concentram nas mãos de poucos, deixando na pobreza, enormes contingentes populacionais nas periferias urbanas e nas áreas rurais.

A dignidade do ser humano decorre, também, o princípio ético da solidariedade, princípio esse que não pode ser confundido com certas práticas de assistência que humilham quem recebe. É preciso aprender a lição de ética que dá o povo da rua quando reparte o pouco que tem, para que todos sobrevivam. Essa ética particular, com mais razão, interpela a sociedade a repartir a abundância para que todos vivam humanamente, hoje e no futuro. Da afirmação da dignidade humana decorre também a exigência da simplicidade. Precisamos abdicar do sonho consumista, ilusoriamente inculcado pela propaganda e implementar uma globalização solidária, a partir de um estilo de vida sustentável.

Garantir o alimento para todos, superando a miséria e a fome, exige de cada um de nós o engajamento pessoal. Mais do que isto, supõe a experiência pessoal do humilde e corajoso processo de gestação de uma nova sociedade, que atenda aos direitos e às necessidades básicas da população: educação, saúde, reforma agrária, política agrícola, demarcação das terras indígenas e das terras remanescentes dos quilombos, distribuição de renda, reforma fiscal e tributária, moradia. Exige também que desenvolvamos novas relações de trabalho e de gestão da empresa, criando uma economia de comunhão comprometida com a solidariedade e atenta às exigências da sustentabilidade.

A fome e a miséria põem em julgamento aqueles que desperdiçam, que deveriam distribuir, ajudar e não o fazem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário