sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Evangelho Maltrapilho!!!



Depois de ler o evangelho de Lucas inteiro pela primeira vez, certa adolescente disse: "Oba! Tipo, Jesus tinha uma tremenda queda radical por maltrapilhos!"
Essa jovem chegou a uma conclusão importante.

Jesus gastava uma porção disparatada de tempo com gente que é descrita nos Evangelhos como sendo: pobres, cegos, coxos, leprosos, famintos, pecadores, prostitutas, cobradores de impostos, perseguidos, marginalizados, cativos, possuídos por espíritos imundos, todos os oprimidos e sobrecarregados, a ralé que não tem qualquer conhecimento da lei, multidões, pequeninos, menores, últimos e ovelhas perdidas da casa de Israel.

Resumindo, Jesus vivia constantemente com os maltrapilhos.

Obviamente o seu amor pelos fracassados e insignificantes não era um amor exclusivo -isso meramente substituiria um preconceito de classe por outro. Ele se relacionava com afeto e compaixão com gente das classes média e alta não por causa das suas conexões familiares, respaldo financeiro, inteligência ou presença na coluna social, mas porque elas também eram filhos de Deus. Embora nos Evangelhos o termo pobre englobe todos os oprimidos que dependem da misericórdia de outros, ele estende-se também áqueles que confiam inteiramente na misericórdia de Deus e aceitam o evangelho da graça - os pobres de espírito (Mt 5:3).

A preferência de Jesus por gente de menor envergadura e sua parcialidade em favor dos maltrapilhos é fato irrefutável na narrativa do Evangelho. Como disse o filósofo francês Maurice Blondel: "Se você quer realmente compreender um homem, não apenas ouça o que ele diz, mas observe o que ele faz".

Um dos mistérios da tradição do evangelho é essa estranha atração de Jesus pelos que não tinham nada de atraente, esse estranho desejo pelos que não eram em nada desejáveis, esse estranho amor pelos que não tinham nada de amável.

A chave desse mistério é naturalmente, Abba. Jesus faz o que ele vê o Pai fazendo, ele ama aqueles que o Pai ama.

Em sua resposta à pergunta dos discípulos sobre quem é o maior no reino dos céus (Mt 18:1), Jesus aboliu qualquer distinção entre a elite e a ralé na comunidade cristã.

E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. Mateus 18:2-4

O Reino pertence a pessoas que não estão tentando fazer gênero nem impressionar ninguém, muito menos elas mesmas. Elas não estão planejando o que podem fazer para chamar atenção para si mesmas, não estão se preocupando com a forma como os seus atos serão interpretados ou perguntando-se se ganharão estrelas douradas pelo seu comportamento. Vinte séculos depois, Jesus fala incisivamente ao asceta presunçoso preso ao narcisismo fatal do perfeccionismo espiritual, àqueles de nós pegos em flagrante vangloriando-se de suas vitórias na vinha, àqueles de nós que choramingam e pavoneiam suas fraquezas humanas e defeitos de caráter.

A criança não tem de lutar para alcançar uma posição de onde poderá relacionar-se favoravelmente com Deus; ela não tem de projetar modos engenhosos de explicar a sua posição para Jesus; ela não tem de criar um rosto aceitável para si mesma; ela não tem de atingir qualquer estado de sentimento espiritual ou de compreensão intelectual. Tudo ela tem de fazer é aceitar com alegria os biscoitos: a dádiva do Reino.

Quando Jesus nos diz para nos tornamos como criancinhas, ele está nos convidando a esquecer o que ficou para trás. O que quer que tenhamos feito no passado, seja bom ou mau, grande ou pequeno, é irrelevante para a nossa condição diante de Deus hoje. É apenas agora que estamos na presença de Deus.

Livro: O Evangelho Maltrapilho
Editora: Mundo Cristão
Autor: Brennan Manning

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