quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Agredido por defender mendigo no Rio deixa hospital após receber alta


Vítor Cunha, de 21 anos, levou chutes no rosto e teve de colocar 63 pinos.
Estudante disse que não considera ato heroico, e repetiria 'hoje ou amanhã'


Vítor Suarez Cunha, de 21 anos,que passou por uma cirurgia em que teve 63 pinos implantados no rosto por causa do espancamento que sofreu deixou o hospital na tarde desta quarta-feira (8), acompanhado dos pais e familiares. Todos fizeram um "V" e disseram "Vitória" na porta do hospital.

Vítor se emocionou, chorou e disse que não considera seu ato heroico. "Não fiz nada demais, fui lá conversar, faria isso amanhã, faria hoje, se visse a mesma coisa. Vi uma pessoa sendo agredida e eu pedi para parar e aconteceu o que aconteceu", afirmou.
Ele fez questão de agradecer a todos que rezaram e torceram por ele, e à equipe médica, que mereceu elogios. "Eu quero comer, comer hambúguer, entrar na internet, ver televisão", disse o estudante, que, por enquanto, ainda terá que seguir uma dieta líquida e pastosa.
Segundo o Hospital Santa Maria Madalena, na Ilha do Governador, ele recebeu alta de acompanhamento ambulatorial e terá de retornar à unidade em dez dias.
Ele estava internado na unidade após ser agredido na madrugada de sexta-feira (3), também na Ilha, ao defender um mendigo que era importunado por um grupo de cinco jovens. Vítor levou vários violentos chutes no rosto. De acordo com os médicos, o jovem também levou uma mordida nas costas e está com dores no braço.
Perguntado se ele levou alguma lição desse episódio, Vítor disse que não aprendeu nada com tudo o que aconteceu. "O que a gente pode fazer hoje, amanhã vai mudar. Hoje aconteceu isso comigo. Pelo menos uma, duas, três pessoas vão pensar alguma coisa, vão ensinar para os filhos deles. Não adianta pensar que uma atitude vai mudar o mundo, mas pequenas coisas vão mudando", disse Vítor, emocionado.
Um
quinto acusado de agredir o jovem se entregou à polícia na tarde desta quarta-feira, segundo o delegado titular da 37ª DP (Ilha do Governador), Deoclécio de Assis Filho, que investiga o caso. Outros quatro suspeitos do crime já estão presos.
'Traumatizado'
O cirurgião Silvério Moraes, que operou o estudante, disse que o estado clínico de Vítor evolui bem, e ele não ficará com sequelas físicas ou neurológicos. Porém, o cirurgião recomenda que o rapaz passe por um tratamento psiquátrico, pois, segundo disse, está muito abalado:

"Ele viu a morte de perto e está traumatizado. Quando tenta dormir, volta tudo à cabeça", disse,
Segundo o cirurgião, em cerca de uma semana Vítor passará por novos exames para ver ser já é possível a retirada dos pontos. Em casa, ele terá de tomar medicamentos, ficar em repouso, deitado em cama com cabeceira elevada e com dieta líquida e pastosa.  
Os suspeitos
O quinto acusado de agredir o jovem, Edson Luiz Júnior, se entregou à polícia na tarde desta quarta-feira, segundo o delegado titular da 37ª DP (Ilha do Governador), Deoclécio de Assis Filho, que investiga o caso. Na tarde de terça-feira (7), o
quarto suspeito, Felipe Melo dos Santos, se apresentou à 37ª DP e foi preso. Outros três suspeitos também estão presos: William Nobre Freitas, Tadeu Assad e Rafael Zanini Maiolino.
Também na terça, o delegado ouviu o soldado da Aeronáutica Yuri Ribeiro. Ele usou a internet para prestar solidariedade a dois amigos presos e fazer ameaças. A Aeronáutica já abriu sindicância para apurar o caso e, em nota, informou que ele poderá ser excluído da Força Aérea Brasileira (FAB).
A polícia identificou mais um jovem que não teria participado das agressões, mas teria visto tudo sem fazer nada para impedir as agressões do grupo. Ele também será intimado a depor.
Vítima quer voltar à vida normalNa terça-feira (7), Vitor conseguiu falar com dificuldade. Sem querem comentar as agressões que sofreu, disse apenas que quer "voltar a fazer as coisas que fazia."
"Estou melhorando, mas tem todo esse processo ainda para eu me acostumar, com a cirurgia. Mas, em vista de tudo, estou ótimo. Quero voltar a fazer as coisas que eu fazia, poder comer o que eu comia, sair, ver televisão", disse o jovem no quarto do Hospital Santa Maria Madalena.

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